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Texto Reprovado #4 – Se tu quiser que eu te leve eu aprendo a dirigir

dezembro 1, 2010

Como boa parte de vocês sabe, eu não sei dirigir. Sério, não sei mesmo, não é sacanagem. Pra dizer a verdade, falar que eu “não sei dirigir” chega até a ser um elogio, porque eu basicamente não faço a mais remota idéia de como se conduz um carro. Ok, eu sei as coisas, básicas, como o fato de que envolve rodar o volante, que terei que pisar nuns pedais e que eu não devo colocar o dedo naquela coisa de acender cigarros, mas fora isso tudo persiste envolto em uma cinzenta nuvem de mistério. Ah, eu sei que rola uma chave também. Ainda que eu não saiba precisar se a que abre a porta é a mesma que a gente encaixa ali perto do volante…Bem, acho que já deu pra vocês notarem o quanto eu conheço sobre carros.

Mas uma das minhas resoluções de ano-novo foi a de que eu esse ano eu iria tirar carteira de motorista (também conhecida em São Paulo por “carta”, e no filme Mad Max por “porte de arma”) e como uma das minhas outras resoluções de final de ano era levar a sério as minhas resoluções de final de ano, eu resolvi começar o quanto antes o processo de obtenção da CNH e fui ver qual seria o primeiro passo.

Segundo alguns amigos o primeiro passo aqui no Rio é pagar o Duda. E eu sei que pode parecer uma piada fácil, mas quando você mora no Rio, o assunto envolve repartição pública e te dizem que você vai ter que pagar o Duda, a primeira coisa que te vem a mente é um delegado chamado Carlos Eduardo e que ele só vai aprovar seus papéis depois que receber algum tipo de suborno. Mas não, ao que parece Duda é o Documento Único de Arrecadação do DETRAN, ou seja não é suborno pro Carlos Eduardo. Ainda que eu desconfie que o Carlos Eduardo cobraria menos de 170 paus pra aprovar meus documentos, mas isso não vem ao caso.

Pago esse DUDA (que por alguma razão esquizofrênica que provavelmente foi muito lucrativa pro estado, mas só cria transtornos pro contribuinte, só pode ser pago no Itaú) você precisa telefonar pro Detran e marcar sua ida lá, com o intuito de entregar cópias de n documentos (ainda não entendi a necessidade de conferir meu teste do pezinho, mas tudo bem), tirar a foto da habilitação e pegar a guia pro exame psicotécnico. Admito que soa bem legal isso de poder marcar coisas pelo telefone e tal, ainda que a ligação caia toda hora e você precise ligar 8 vezes até conseguir falar com alguém. Que vai, é claro, derrubar a ligação de novo. Mas de qualquer maneira eu consegui marcar minha ida ao Detran.

E no outro dia lá estava eu. Hora marcada, mas cheguei um pouco antes, sabe como é. Entrei lá dentro, me dirigi ao balcão de informações (que é o mesmo pra todo e qualquer assunto resolvido na repartição, desde carteiras de motorista até carteiras de trabalho, passando por carteiras de ações e alunos de castigo porque escreveram o nome na carteira da sala) e disse que tinha hora marcada no Detran, as 08:30. A atendente, é claro, sem olhar em nenhum sistema, sem consultar nenhuma lista, me deu uma senha. Ou seja, das duas uma, ou ela realmente acreditou na minha palavra ou então o sistema de marcação de horário não servia pra nada. Mas peguei minha senha e segui em frente.

53 páginas de Nick Horbny depois eu fui chamado pelo atendente, cuja demora era explicada pelo fato de que, ainda que quatro funcionários estivessem sentados nas mesas, apenas dois deles estavam realmente prestando atendimento, sendo que um deles estava batendo boca com uma senhora por algo que eu não entendi direito, mas parecia ter algo a ver com o posicionamento tático do Edmilson na Copa de 2002. Mas posso estar enganado. Chegando ao guichê apresentei meus documentos, respondi que não, não planejava me tornar motorista profissional (admito que hesitei, mas a Nascar terá que esperar), tive meu psicotécnico marcado e fui repassado para a fotógrafa.

Bem, esse seria o final total e completamente sem graça da primeira parte dessa história, com uma fotografia besta e esquisita da minha cara, seguida da minha ida para o trabalho, não fosse por um detalhe. Do local onde era tirada a fotografia, localizado atrás dos guichês, eu podia ver os monitores de todos os funcionários do atendimento, inclusivo os que estavam parados. E ainda que um dele estivesse obviamente jogando paciência (o que mais ele ia estar fazendo? Preenchendo um relatório?!) a atividade do outro me surpreendeu. Sim, amigos ele estava jogando o clássico, o épico, o lendário Elifoot 98. Com o Ceará. Tinha contratado o Viola. E mesmo assim era o último colocado da 4ª divisão…Funcionalismo público do Rio, você ganhou o meu respeito.

(2010)

7 Comentários leave one →
  1. dezembro 1, 2010 4:55 pm

    Porra João, este texto é completamente um A-Side! O que ele tá fazendo aqui, no lado B da Força? (Sem nenhum preconceito a eventuais Lordes Negros de Sith que visitem o blog). Fora que tem a carteira de motorista do McLovin! Como ISSO não é um Lado A??

    Ri demais com o Eliffot 98. E desde que eu achei o cheat o’matic, nunca mais deixei de ganhar absolutamente tudo do jogo!

    • João Baldi Jr. permalink*
      dezembro 1, 2010 4:58 pm

      Ah, esse ficou fora porque me esqueci dele e acabei perdendo o prazo pra postar, já que ele é do começo do ano…tem muito texto que eu escrevo e acabo esquecendo, daí quando topo com ele seis meses depois o timing já foi embora sem dia pra voltar…

      Mclovin, bitch. Grande momento

  2. dezembro 1, 2010 6:27 pm

    hmmm eu ja ia tirar um sarrinho camarada do “resolver as resoluções do ano no último mês” mas sou educada e disposta e li o comentario acima.

    esse post com certeza seria um a-side.
    mclovin, bide ou balde… e eu tambem nao sei dirigir. aos 18 anos eu ja estava casada, e o moisa me levava pra onde eu precisava ir. sem contar que eu nao me importo em andar de onibus (ate gosto, ligo o ipod e vou sacolejando pra outra dimensão). claro que eu morava numa cidade de interior, e o caos que voces da CIDADE GRANDE conhecem dentro de onibus eu desconheço. outra ajudinha era o bairro onde eu morava. minha linha de onibus passava em frente a dois hospitais, entao o onibus so era cheio no horario de saída dos funcionarios, mesmo assim nao era la grande coisa.

    agora eu moro numa cidade bem pequena e plana, portanto é preferivel uma bicicleta a um carro.
    pelo visto, minha carteira de motorista ainda vai demorar pra sair.

    digam graças, porque né… me desespero fácil, e isso significa um braço de foca a menos no transito.

  3. alice permalink
    dezembro 2, 2010 12:08 am

    e tudo isso pra ganhar uma garota, de acordo com o título… mas e aí, aprender a dirigir?

    respondendo sua indagação: o itaú comprou o banerj (q era o banco oficial do estado, obvio) então tudo estadual só serve lá (tipo a taxa de bombeiro q eu sempre pago com multa por esse motivo)

    agora me diz: qm vc levaria pra uma ilha deserta? um funcionário publico, um motorista de ônibus ou um garçom? (todos cariocas, é claro)

  4. Annia permalink
    dezembro 2, 2010 3:38 am

    Muito bom! Já me pegaram jogando Quake 2 no notebook na recepção (isso quando não rolava mini-lan com mais uns 3). Mas não tinha gente pra ser atendida, juro.

    Outro dia também fui ver um imóvel em um plantão e um cara tava jogando aqueles estilo bejeweled perto de mim. Tentei dividir minha atenção com plantas e fluxos de pagtos mas na verdade tava me concentrando em não gritar A AZUL! AZUUUUUUUUL!!!

    E, bom, não sei dirigir também. A não ser que você conte o Daytona. Porque aí eu sou foda. embora se isso contasse eu REALMENTE não tiraria carta… Deve dar muitos pontos na carteira você capotar os outros de propósito.

    Sobre o DUDA, eu pensei a mesma coisa…

  5. dezembro 4, 2010 10:39 pm

    jura que voce não tem pretensões de ser taxista um dia ?
    como assim ? :)

    b-sides rules

  6. dezembro 13, 2010 1:52 am

    Eu fiz estágio no Jornal da UFV e meu horário de trabalho era o mesmo do Moicano.

    Resultado: Elifoot 98 instalado e minhas tardes muito mais felizes.

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